Mosaico da Vila

E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias
Machado de Assiso leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de AssisOSAICO DA VILA
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de AssisICO DA VILA
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de Assisepare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de Assis

Na Rua das Pataratas a  morada do Divino


Ali na rua das pataratas, resquício da Oeiras  colonial, foi erguida a Galeria do Divino Espírito Santo, obra idealizada e firmemente edificada pelo oeirense  de “quatro costado” Olavo Braz, entusiasta das coisas da Primeira Capital e devoto fervoroso do Paraclito. A atmosfera poética do lugar se materializa nos escritos que dependurados nas paredes externas da casa exalam a mais profunda oeirensidade, daqueles poetas que não se cansam em revelar o sentimento afetuoso pela terra mão do Piaui.



Ao adentrar, eis ali a mais instigante demonstração de fé ao Espírito Santo por essas bandas do Brasil, a arte naquele lugar assume uma função evangelizadora, cada peça uma história, uma interpretação e acima de tudo uma reverência a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. A sacralidade do lugar transmite ao visitante a mensagem do quanto é forte a devoção dos donos da casa, morada de Olavo, morada de Isabel, coincidência ou não, o mesmo nome da infanta que introduziu em Alenquer a Festa do Divino, que em gesto de humildade  ofereceu a sua Coroa ao Espírito Santo. O gesto divinal de a rainha reproduzir-se no gesto do casal  Braz Nunes, que abre  solenemente a sua residência para receber os devotos, visitantes e admiradores da boa arte.

Por toda casa uma falange, talhados no bom gosto da arte sacra piauiense. Anjos de todos os tamanhos, de cores diversas, anjos negros! Querubins de olhos piedosos revelando na madeira doce o mais tênue dos sentimentos humanos, a compaixão! A presença dos anjos junto ao orago devotado deixa a casa ainda mais celestial. De maneira bastante oportuna em um dos cômodos da galeria, uma homenagem a Dom expedito Lopes, primeiro prelado da diocese de Oeiras, homem de Deus assassinado por questões dogmáticas, mas que vive no imaginário coletivo dos oeirenses como um bom pastor, visto que tinha como lema “Restaurar tudo em Cristo”.


A geleira do divino é sem duvida um grande presente para a cultura oeirense, que há muitos anos celebra de maneira efervescente a Festa de Pentecostes, momento que a cristandade rememora a descida do Espirito Santo sobre os apóstolos. A Festa do Divino imprime nos devotos à possibilidade de regeneração e renascimento, sem dúvidas um misto de sensações, onde as orações e as promessas são os meios pelos quais evidenciam toda uma expressividade de fé.

Visitar essa galeria, é ter a certeza que em Oeiras muitas famílias foram se modelando com o transcorrer do tempo mediante os preceitos religiosos, assim nas cercanias da Vila da Mocha, surgiu uma cristandade que conhece a risca os rituais desde as missas de Te Deum  aos lamuriantes de Requiem. Dessa forma, tão quanto nas igrejas, no âmbito das moradas sempre existia o oratório do santo de devoção.



Assim, visitar Oeiras é ter contato com suas mais vibrantes manifestações e  dentre elas a Devoção do Divino que tão bem ilustra o oeirense Olavo Braz, natural dessa cidade pitoresca, onde  as luzes das velas, o perfume das flores e principalmente os lábios que se batem em oração, sintetiza a Festa do Paráclito como uma das manifestações religiosas de maior destaque do povo dessa terra sertaneja.

Junior vianna

Foto de Orlando Berti


O desabrochar da  Paróquia de Colônia do Piauí

Era março de 1697, quando nas ribeiras do Mocha instituía-se a Paróquia em devoção a Nossa Senhora da Vitória. Vitória pois,  daqueles sertanejos tão distantes e  desprovidos das palavras de Deus, a Igreja  que nascia nas feudais terras da Casa da Torre, era sem dúvida  uma ousadia do prelado pernambucano,  Frei Francisco de Lima,  que não tardou em visitar a nova freguesia em detrimento da tirania dos sertanistas. Ora! Francisco deixara a comodidade da Cúria para embrenhar-se sertão adentro, era ali o pastor tentando apascentar o seu rebanho! Como bom carmelita, se fez missionário e tomou por base uma passagem do evangelho de Mateus: "Ide, disse o Salvador, e proclamai em todas as partes que o Reino do Céu está aberto”.

Assim feito, edificou-se no Brejo da Mocha a Igreja mãe de todas outras igrejas do Piauí. Anos posteriores os substitutos do bispo semeador, repetiram em outras cidades o mesmo ritual litúrgico, e varias paróquias foram criadas. Em verdade vos digo, a semente plantada por Dom Francisco de Lima, deu frutos. E dessa semente, brota em dias atuais nas cercanias da primogênita paróquia, mais uma freguesia, dessa vez em orago a Santo Antônio, um franciscano que se dedicou à oração e a penitência, e que fez de sua vida um verdadeira difusor das palavras de Deus.

A nova Paróquia fica na cidade de Colônia do Piauí, antiga fazenda Saco do Rei, que outro, antes mesmo de pertencer à Coroa lusitana, pertencera aos padres jesuítas. Terras férteis que margeiam o rio Tranqueira, a mesma região que se realizou no apagar das luzes do século XVII a reunião para criação da primeira paroquia do Piauí. Tal encontro sem fez na fazenda com o mesmo nome do rio, na casa do senhora Antônio Soares Thoguia. Depois de tanto tempo, firma-se nessa região sua própria sede religiosa, quanta benevolência!

A Paróquia de Colônia do Piauí que se desmembra da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória de Oeiras, faz avivar as coincidências da vida! E quanta coincidência! Nas terras que um dia foram dos jesuítas, edifica-se a freguesia em orago a Santo Antônio, evangelizador tão quanto o bispo que criou a primeira paroquia piauiense, que por sinal chamava-se Francisco, tão quanto o novo Papa, que é jesuíta.  Isso pode ate passar despercebido diante a simplicidade da cristandade, mas é bem verdade que nessa terra sertaneja, onde muitos são os descendentes de vaqueiros aguerridos, permanece a intrínseca devoção às coisas da Igreja Católica, e isso se faz quando batizam os seus filhos com nomes que rementem aos santos do catolicismo heráldico, sobre tudo de Francisco e Antônio. Nomes simples, de pessoas humildes que irmanados na mesma fé edificam em benditos e orações aquilo que aprenderam com seus ancestrais na mais popular das ritualizações.

A nova paróquia sob a liderança do padre Juvenal Soares Pereira, pastoreado por Dom Juarez Sousa da Silva, efetiva-se ao mesmo tempo em que o pontificado do Papa Francisco. Dessa maneira rememoram-se velhos rituais sacros nas terras sertã do vale da Tranqueira, que por anos a fios eram para os primeiros moradores um verdadeiro criatório de gado vacum. Assim na Terra da Vaquejada, onde a fé é uma das características desse povo, vive antecipadamente das festas juninas, aquela saudação nordestina: viva Santo Antônio! 
Junior Vianna

 Amar é a solução

 Se amar é a certeza de querer bem ao próximo, tem muitos por ai ainda precisa descobrir o verdadeiro sentido do amor, mas para isso é preciso derrubar muitas barreiras, dentre elas o da hipocrisia. Amar é a palavra de ordem, amar seja quem for, independente da cor, de patrimônios, de estética e sexo. Sim! De sexo, pois tem muita gente acreditando que para amar tem que ter laços familiares ou ser de sexo oposto. Amar é mais que isso, é sentir bem, é não cobrar e nem ser cobrado, é saber que mesmo que distante nada e ninguém poderá intervir nesse sentimento. Quem ama de verdade tem que aprender a renunciar e fazer isso não é coisa fácil.  

Dizem que amar é um sentimento nobre, digo mais, é sentimento heroico, na maioria das vezes as pessoas confundem amar com apaixonar, acasalar ou simplesmente dizer que gosta de alguém demais da conta. Não! Amar é uma paz interpessoal, que faz bem a si, pode ate parecer egoísmo, mas na maioria das vezes ama-se unilateralmente, pois quase sempre em muitos relacionamentos um ama e o outro se deixa ser amado, claro com exceções!

Nos dias de hoje em que o tempo ocupa cada vez mais as pessoas o amor tem sofrido brusca alteração, mas mesmo assim têm pessoas que amam incessantemente, tudo e a todos... Mas será mesmo que vale apena amar? Se amar faz bem, tem gente que ama seus livros, seus amigos, sua família, ao próximo ou ate mesmo uma mesa de bar, na verdade existem varias e estranhas formas de amar.

Para alguns amar não é fácil, pois às vezes é preciso cumplicidade, respeito e coragem. Tem homens que amam uma mulher ou varias mulheres, e viram poetas, mulheres quem amam um só homem e torna-se a sua fiel escudeira, existem mulheres que amam outras mulheres tão quanto, homens que ama outros homens, o que dizer disso? Nada! Amam como qualquer outro, haja vista que amar não faz mal!

Quando o amor deixar de ser uma junção de palavras bonitas em poemas, as pessoas passarão a perceber que amar faz muito bem. Tem pessoas que prefere dizer “eu te amo” embora seja uma assertiva forte demais, já outras preferem escutar que são amadas, visto que é mais cômoda essa posição. Ledo engano, pois ser amado requer uma responsabilidade muito grande, a de não decepcionar a pessoa a quem te ama, embora sabendo que o amor é eterno.

Para amar não precisa de alaridos, pode-se amar baixinho na leveza da respiração, não precisa de exposições gratuitas, basta uma foto guardada na agenda, não precisa estar grudado sempre e falar ou mandar mensagens a todo instante pelo celular, precisa apenas fechar os olhos.  Amar é quando tudo parece estar perdido e você tem com quem contar sempre, seja apenas com um abraço ou mesmo um sorriso de canto de boca. Se todo mundo amasse de verdade não existiria maldade.
Vamos amar!

Junior Vianna

 Edmo Campos arquitetando palavras


Muitas entrevistas já foram feitas aqui, com poetas, músicos, ator e agora é a vez de dar forma ao Mosaico com o arquiteto e agitador cultural Edmo Campos. Sua entrevista é uma verdadeira ZOOEIRA! Descontraída a conversa não poderia deixar de fluir de onde menos imaginemos, do bate papo do facebook, sem necessidade de prolongamentos nessa descrição ai vai à entrevista com mais um oeirense da gema.

Mosaico da Vila: O forró é sem duvida o estilo musical mais difundido nas cidades do nordeste, o que não seria diferente em Oeiras. Diante dessa realidade, o que levou a você idealizar um festival de pop- rock sabendo dos possíveis riscos de rejeição por parte dos oeirenses?
 Edmo Campos: O forró sem dúvida alguma é o ritmo mais forte na região Nordeste, apesar dele ter se desvirtuado bastante da raiz. Porém, isso não quer dizer que seja único no gosto das pessoas. A ideia de fazer um evento diferente dos demais é uma forma de agraciar os que também gostam de ouvir outras coisas. Oeiras é uma cidade de grandes artistas, existe uma atmosfera propícia. Nós sabemos que o público é limitado, mas ele existe. Um festival de música pop não quer dizer que só venha a ter fã da música pop. O Zooeira é para quem tá cansado do arroz com feijão, do trivial. Veio pra dar uma sacudida.

Mosaico da Vila: Oeiras é tida como referência cultural pra muitos artistas, porém vive um “boom” de festas ao som de swingueiras, nessa perspectiva, você enquanto agitador cultural, como analisa a atual realidade cultural da cidade?
Edmo Campos: Na verdade eu acho supernormal, devido às circunstâncias em os jovens da cidade e do país estão inseridos. A grande mídia vende isto, às rádios vendem isto e o que podemos esperar? Eles vendem, a juventude consome e replicam exatamente o que tem como referência. Você é praticamente forçado a engolir certas coisas. Até que um dia qualquer você se depara com sua filha pré-adolescente fazendo gestos obscenos incentivados por uma música aparentemente legalzinha. Aí você pensa (ou era pra pensar): Opa! Existe algo de errado aqui! Eu acho também que o poder público tem culpa também nisto. Eu conheço vários jovens com projetos culturais muito bons para cidade que reclamam da falta de apoio. Um jovem certa vez me disse que cansou de tentar apoio da Prefeitura alegando que eles nunca davam a devida importância ao seu projeto de dança de rua. Agora, dinheiro pra banda de swingueira tem, né? Frise-se, isto é a realidade do Brasil.

Mosaico da Vila: Em recente entrevista a revista Revestrés, o humorista  João Claudio Moreno, afirma que: “O Piauí é tão carente que é fácil tornar-se referencia em qualquer coisa que se faça”. Nessa perspectiva se andarmos pelas ruas de Oeiras muitas obras são assinadas por você, assim podemos dizer que hoje o Edmo campos é a referencia no que se trata de arquitetura na primeira capital?
Edmo Campos: Eu li esta entrevista e concordo plenamente com o João. Hoje, realmente tenho o privilégio de ter bons clientes na cidade, mas pouca gente sabe que nem sempre foi assim. Só fiz meu primeiro projeto aqui com quase sete anos de formado. Ou seja, santo de casa só não obra milagre se desistir no meio do caminho. Não me sinto uma referência, eu acho é que a cidade é mesmo carente de muitos serviços e a Arquitetura de qualidade é um deles. Como estou mais presente, até porque a cidade me inspira, acabo sendo lembrado mais facilmente. Bom, eu gosto mesmo é quando às vezes algum jovem da cidade me pede informações sobre a profissão, e claro eu incentivo bastante.

Mosaico da Vila: O portal da cidade de Oeiras é sem duvida uma de sua mais notável criação, como você reagiu quando o projeto original foi alterado sem o seu consentimento?
 Edmo Campos: Putz! Eu tomei um baita susto quando estava chegando a Oeiras e vi aquilo. Eu quem te pergunto Júnior: Você mudaria a receita que um médico lhe passou sem antes consultá-lo? Mas no Brasil é assim, muitas profissões não tem o devido respeito do poder público. Agora, eu fiz a minha parte como profissional e cidadão, em vez de sair detonando todo mundo na internet (como muita gente vez na época), eu me dirigi à secretária de cultura da época e me ofereci (gratuitamente) para dar sugestões de como usar as cores e slogans da nova administração. Porém, ela não se interessou. Fazer o quê?

Mosaico da Vila: Você sendo um entusiasta das coisas de Oeiras, se lhe fosse permitido um pedido ao gênio da lâmpada o que desejaria para essa cidade?
Edmo Campos: Que as pessoas, principalmente os jovens, pudessem ter mais inciativa. Sei que muitos desistem, pois a luta é difícil, existe pouco incentivo. Mas sem empreendedorismo não evoluiremos nunca. Espero que estas instituições educacionais que tanto prometem por aí, possam de fato abrir as portas e consequentemente abrir a mente da juventude de Oeiras e região.

 Edmo Campos arquitetado em palavras

Mosaico da Vila: Amor
 Edmo Campos: Meu combustível, meu ar...

Mosaico da Vila: Família
Edmo Campos: "família é quem você escolhe pra viver". Isto é a maior verdade! É quem te faz bem! Eu amo a minha: tanto parentes, como os amigos e a minha Lara.

Mosaico da Vila: Sexo
Edmo Campos: Se o amor é meu combustível, o sexo é o fogo. Essa mistura é a melhor de todas. (risos)

Mosaico da Vila: Religião
Edmo Campos: É o que lhe dá paz interior. Me dá paz ter fé no senhor Jesus, mas respeito a todas as outras.

Mosaico da Vila: Rock
Edmo Campos: Um estilo musical que transcende a si mesmo. É ter atitude! É ter o espírito livre! É ter INICIATIVA!

Mosaico da Vila: Amigos
Edmo Campos: Que sejam poucos, que sejam loucos, mas que sejam verdadeiros.

Mosaico da Vila: Paixão
Edmo campos: Motivação! Encanto! Deve sempre ser preservada.

Mosaico da Vila: Politica
Edmo Campos: Apesar de bastante queimada no nosso país, acredito nela. Principalmente nas novas lideranças com ideias desprovidas de rancor que estão surgindo na nossa cidade.

Mosaico da Vila: Segredos
Edmo Campos: Guarde-os sempre pra você.

Mosaico da Vila: Espelho
Edmo Campos: Um menino em eterno aprendizado. Um rascunho inacabado.

Junior Vianna

A sexualidade oculta em Malhadinha

Uma das mais notáveis produções literária de estirpe oeirense é sem duvida, Malhadinha, obra ficcional do escritor José Expedito Rêgo. Ambientada no final do século XIX, exibe com presteza dois universos simbólicos nos quais transitavam o povo sertanejo do Piauí, digo, uma gente dividida entre o catolicismo hereditário, como também no deleitoso cosmo de atos profanos, frutos dos desejos, que não ficavam limitados ao breou das alcovas.

Malhadinha é instigante do início ao fim, não só pelo seu desenho histórico do fim do século XIX, onde perfilam importantes acontecimentos, mas também, é enérgica e viril, nas descrições de eróticos encontros entre as personagens enamoradas nas paginas do livro. As cenas de sexo aos olhos do autor são bem naturais, visto que, o mesmo não usa artifícios ou ao menos rebusca a linguagem para imprimir no leitor a imagem das cenas narradas. ”Deitaram no chão, ainda morno da tarde de sol. Hélio levantou o vestido da mulher até a cintura. Nenhuma peça por baixo. Admirou as coxas longas, cor de cobre, a vulva infantil, sem pelos, a fenda mediana escura, entre as polpas rechonchudas (...) desceu as calças até o joelho. A introdução foi fácil.” A descrição anterior do primeiro ato sexual entre Hélio e Joana, fica explicito que Expedito Rêgo não poupava detalhes, fazendo com que os olhos em leitura penetrem ainda mais na obra literária.

A escrita do autor nos evidência ainda os pudores sendo corroídos pelas traças do desejo, a exemplo dos encontros de Raquel e Nelson, outras personagens do livro.” No segundo encontro. Nelson possuiu Raquel, debaixo do juazeiro. Ele a despiu peça por peça, sob os protestos não convincentes da moça. Contemplou-a nua, o corpo branco arrepiado de medo.(...) Ela se entregou sem resistência.” Os encontros ora na beira do riacho, ora no quarto da moça, tornam testemunhos de que a muitos são os enlaces velados pela cumplicidade do silêncio.

A leitura da obra nos leva ainda perceber que ilimitadas eram as proibições impostas pela sociedade da época, mas quem em dados momentos são refutadas pelas personagens, visto que às mesmices do cotidiano, opunham-se aos latentes desejos carnais. Assim, a satisfação sexual de cada personagem deixa escancarada que o sexo, na sua mais intima realização, era se não, o mais animalesco dos atos humanos.

As verdades da sociedade da época materializam-se em Dona Sinhá, marcada pelo moralismo ético, sem dúvida fruto de sua religiosidade exacerbada, entre orações e leituras sacras, tentava impor nas outras personagens regras e preceitos, para que junto à religião pudessem gozar da vida eterna. Mesmo com esses entraves o autor, ousadamente faz confrontar o humano com o espiritual. Isso se dar na paixão proibida encabeçada por Nair e Padre Sergio, embora quase irmãos, o amor desponta em meio a valores e barreiras, as insinuações verbais de moça é sem dúvida o espírito do autor carregado de cientificidade, sua fala alicerçada numa filosofia iluminista se opõem ao primo celibatário, que carregado de desejo tentava suprimir tão sentimento.

Nair não é um nome comum, José Expedito Rêgo, intitula assim a personagem porque ela também não é comum, se o seu nome significada “a estrela brilhando do navio”, é sem dúvida ela que guia os momentos finais do livro, a moça toma as rédeas e chega impor suas verdades em certo momento ao amado. Impetuosa chega a beija o clérigo e destemida impõem-se: ”pouco me importa se que sejas padre. Para mim és o homem que eu amo. Sei que não serás meu, mas quero ter o prazer de ouvir de teus lábios as doces palavras: Nair eu te amo!”.  O amor é confirmado apenas em palavras, visto que os desejos mais ardentes foram ali pontuados.

Muitos são os encontros e desencontros quem compõe Malhadinha levar-se-ia muito tempo pra esmiuçar cada um desses casos, cabe aqui apenas exortar a escrita de José Expedito mais uma vez, onde ele é sem duvida, varias personagens desse livro, ora implícito, ora em ações, vive em pensamentos ou simplesmente vagueia entre as personagens do livro apontando a direção de cada uma. 

Junior Vianna
 
Uma Oeiras arroxeada

Baila solitário no arco de cantaria o sino português, dolente, dobra na poesia noturna da Cidade Velha aclamando o tempo Quaresmal. A Oeiras colonial renasce ali, em suas práticas antigas de um catolicismo lusitano que outrora se plasmou nos Sertões de Dentro, pelos desbravadores em busca de novas oportunidades.

A Igreja de todo um sempre, ritualiza no seu âmago aquilo que o povo vive ciclicamente, geração após geração, num elo de amor e devoção pela herança maior passada de pai para filhos, a fé!  A Oeiras que outrora profanou seus becos e ruas delgadas com os alaridos da festa momesca, anuncia a purificação destas, pois não tardará, logo servirão de via sacra, avivada pela sertaneja penitencia  secular.

Enquanto o sino dobra no bailado dolente, o rito quaresmal é vivido intensamente, os altares barrocos-rococós, com suas imagens portuguesas são cobertos pelo roxos, cor litúrgica do tempo vigente. Mas por que roxo? Indagação um tanto quanto oportuna para os desconhecedores, ora, roxo penitencial, diria uma carola, contrita em orações. Todavia, por que não dizer, que o roxo evidência uma cor mística, resultante da mistura do vermelho com azul, onde o vermelho significa a carne e matéria, o azul significa o céu e o espírito?

 De certo, o roxo que cobre os altares da Velha Matriz é insígnia do amor piedoso, como certa vez disse o historiador Fonseca Neto ao se referir a essa questão: “Porque roxo? Por que roxa é a paixão profunda, o encarnado que amargurou.” E dessa forma, dobram-se os joelhos e em voz contrista exclama-se: “porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!”.

A Catedral de Nossa Senhora da Vitória a muito não revivia essa tradição de cobrir suas imagens durante a Quaresma, tradição que atravessou anos, com intuito despertar nos cristão que é necessário fazer penitência antes de tomar parte do sobrenatural rito da a Paixão e Morte de Cristo,  algo que os oeirenses tão bem sabem celebrar. A tradição é europeia, alguns estudos apontam que a mesma teve origem na Alemanha, com a intitulação de “veu da quaresma”, mantido nos altares até a celebração dos rituais da Semana Santa, sendo retirado  somente no Sábado de Aleluia.

Não tardara e a cor roxa que resguarda os altares da Cateral da Valha Urbe, logo ganhará as ruas demarcando a sacra passagem do Senhor do Passos, no mais apoteotico dos eventos da cidade.  Pois o roxo, é a cor que explicita a fé sertaneja pelos  passos do Bom Jesus de Oeiras.

Junior Vianna

foto de Joseane Santos

Nas manhãs da velha Urbe


Na manha mágica do mês de outubro os anjinhos barrocos da Igreja do Rosário não suportando o calor da brejeira vila saíram a valsar pelas ruas, nus vagavam sem destino, juntos brincavam na mais inocente das cirandas, fazendo rir os velhos fantasmas condoídos de seus pecados.

Os anjinhos barrocos vagavam pela Rua do Fogo atrás do som doce da flauta de Possi e  do bandolim mágico de dona Aracy... Bailavam em frenéticos movimentos na mais pura inocência de quem não tinha pressa que o tempo passe.


Na Rua da Feira roubavam os pomos amarelos colhidos nas quintas verdejantes do Mocha, antes mesmo que fossem surpreendidos, correram rumo  a Igreja da Conceição, mas temendo serem visto por alguém, debandaram-se no rumo do Buringa, ali estavam no lugar proibido que por muitas vezes  foram alerdados de nunca irem, mas já era tarde, estavam na geografia úmida do prazer da velha cidade, a dois passos do cabaré de Ciço Cego. Mas nada poderiam fazer, a não ser levantar as saias das raparigas e saírem correndo, corriam de mãos dadas e por entre a mata de Maria mole, ali estavam os anjinhos nas margens do mocha, e despretensiosamente atiravam-se nas águas cálidas do riacho... Profanas eram as águas que escorria homogeneizada com a espuma do sabão das lavadeiras que lavavam a hipocrisia da cidade.


Antes que o dia repousa-se no poente, teriam tempo de passar na casa de Zé de Pedão, e lambuzar-se com o doce que o bondoso homem colocava sempre na janela para esfriar. Quanta traquinagem, quanta inocência...

Os anjinhos depois de saírem livres pelas ruas da urbe encantada deveriam esta de volta ao Rosário antes das seis; Dito e feito! Ali estavam... Logo que Balbina, a baronesa da Doce Colina arrastou a porta, aproveitaram do barulho e voltaram cada um para seu lugar. E eternamente reinaram nas horas em que o tempo vira poesia e o povo entreter-se na vida alheia e nas coisas do passado.

Junior Vianna