Sexta – Feira Maior
Quando o dia vira noite e o alarido da cristandade silencia, eis ali no adro da Catedral de Nossa Senhora da Vitória o apoteótico “Descimento da Cruz”. Jaz o Cristo! Uma tragédia ou um espetáculo? Diria! Uma tragédia milenar que dramaticamente se transformou em espetáculo na secular Oeiras. Assim, sob o olhar atento dos fieis, os Freitas retiram do madeiro a imagem dependurada efetivando desta forma na Sexta- Feira dita Santa, mais uma procissão a percorrer as ruas e becos, desta vez ao som dolente da matraca que compassadamente exterioriza o sofrimento litúrgico.
Junto aos fieis vai Maria Béu, nossa Verônica, que do latim ganhou a popular denominação. Lamuriante exorta em seu cântico a dor e expõem aos caminheiros na replica do Sudário a face de Jesus. Lamenta alternadamente, ora no latim arcaico, ora no português nosso de cada dia. Durante o percurso são ao todo sete paradas, uma desta é justamente em frente à casa que residiu o Visconde da Parnaíba, será que ate mesmo nas festas religiosas interferiria o velho Né de Sousa Martins? Uma dúvida pertinente... Uma certeza que se desfez com o passar dos anos. Sem entraves a procissão segue seu rumo ao som também dos acordes da Banda Santa Cecília, que entoa marcha fúnebre que muito faz lembra um tango argentino pela sua cadência musical.
Debaixo do palio roxo vai à imagem do Senhor Morto, levado pela oeirensidade penitente, por homens que herdaram de seus antepassados o catolicismo provinciano. Procissão que outrora foi patrocinada pela irmandade do Santíssimo Sacramento, porém findou-se a tal a confraria, mas a tradição perdura pelo bem querer dessa gente. Desta vez Zé de Helena não carregou o tamborete de Maria Béu, a sua fragilidade humana o impede, mas foi substituído a altura por Miguel de Jerônimo, coincidência ou não, ambos irmanam na mesma fé em Cristo.
A procissão delineia-se pelas ruas do centro-histórico, na antiga Rua do Izidro duas paradas, uma desta virada para Rua do Fogo, onde Expedito imortalizou Juca que após muitos anos encontrou em Cristo o caminha certo e abandonou o caminho da loucura. A procissão passa, mas fica miticamente a certeza que a Santa do Pescoço Fino não quebrou o seu pescoço. È sem dúvida um misto de sensações, um dia de encantamento e de muitas narrativas. Na frente na Casa das Doze Janelas mais uma parada, mais uma vez lamenta a Maria Béu, onde discretamente os filhos de Oeiras cantam o seu lamento e encantam os quem vem à cidade acompanhar a monumentalidade cristã desse povo.
Finaliza-se a procissão do Senhor Morto no adro da Matriz onde os oeirenses cumpriram mais um rito de passagem e depositaram toda a sua esperança no Cristo que não tardara ressuscitar. Finda mais uma manifestação sacra, mas permanece o desejo de vivê-la novamente, por isso que Oeiras é o grande destino de muitos durante a Semana Santa.
Júnior Vianna
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