As carnaubeiras

Uma nuvem branca se fazia diante de seu olhar sonolento, silenciosa feita a tarde daquele dia empalidecia igual os lençóis brancos que lhe cobria. Aos poucos encarava a eternidade, seu corpo gelava... Ali na alcova o choro sentido da criada contrastava-se a oração contrita da matriarca da família. Sem dúvida um misto de sentimentos diante a morte da moçoila que acometida de profunda melancolia entregou-se facilmente a doença desconhecida.

Do canto do olho rolou a última lágrima que vagarosamente escorreu pela face inanimada... Jazia ali quem amou intensamente em pensamento aquele que em reciprocidade devotara o mesmo carinho; os dois eram vítimas das brigas mesquinhas de famílias aristocráticas. A disparidade aguda motivou a morte do rapaz em típica emboscada sertaneja no lugar por nome de Capão Bonito. Tombou, vitimado pelo tiro certeiro que perfurou o seu coração.

O trágico enlace sentimental, mesmo contido a duras penas pela tirania senhorial, perduraria no Campo Santo, onde em repouso eterno estavam sepultados os dois jovens. Dessa maneira a natureza cúmplice, fez nascer junto à lápide dele um broto de carnaubeira, que rapidamente foi cortada pela sua família. Feito isso, o broto nasceu no túmulo dela, que também foi podado. Diante da insistência dos mistérios do amor brotou-se por fim duas carnaubeiras entrelaçadas na lápide dela...

Foram os dias, as famílias e restaram as duas carnaubeiras que viverão eternamente juntas até que um dia a morte os separe.

Junior Vianna