Mosaico da Vila

E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias
Machado de Assiso leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de AssisOSAICO DA VILA
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de AssisICO DA VILA
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de Assisepare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de Assis

Meu anjo é mochino
Tem coisas únicas na vida, tipo nascer... Nascer em Oeiras, morar em Oeiras e ser de Oeiras. Quando eu nasci não Foi um anjo torto, esbelto e nem louco que pegou na minha mão pra eu fosse conterrâneo de Ermínio. Foi um anjo meio mocho, desses que realmente vive por ai, e que quer saber da vida de todo mundo, pois não é à toa que ele fica nas brechas das janelas guardando aqueles que passam pelas vias públicas na calada da noite ou em plena claridade do dia.
Pra certificarem que eu era realmente dessa urbe, fui levado ao batismo, não era o Jordão, mas o riacho Mocha, que ficou cego por enxergar demais e morreu por ser inocente.E eu que era criança acreditei que era o progresso, enquanto o anjo mocho continuava preocupado com a vida dos vizinhos, todavia quem bebe da água de Oeiras, fica enfeitiçado e acorrentado aos seus costumes. Eu aprendi na voz paulatina do arcanjo que para ser mochino era necessário ser monoteísta fervoroso, acreditar na fantasia, comer muito na Semana Santa, falar mais do que os padres nas horas dos sermões, fazer tudo depois da missa e quem sabe, falar de vez enquanto, da vida dos “amigos”.
Não sou digno de percorrer o malgrado caminho do Sinédrio ao Gólgata e nem fui condenado por crime algum, mas o anjo conduziu-me em passos para agradecer ao Senhor dos Anjos por muitas graças, para deixar ainda mais nítido, fui com um ex-voto na cabeça como um bom nordestino. Era ali a procissão dos passos, cheio de passos, de pernas... Pernas finas, ruças de poeira, cheias de varizes, reumatizadas... Pernas de paus... Pernas de Oeiras.
O anjo me mostrou ainda que abrir a janela em Oeiras é abrir a janela para o mundo, pois a velha beata caminha devagar, a vaca come a grama na praça devagar, devagar o cachorro rói o osso na calçada do mercado. Caro amigo Drummond, isso não é uma vida besta, é a vida em Oeiras, por isso dê viva, viva, viva!
O meu anjo mocho que não é barroco, mais tem asa de avião, levou-me para dar uma volta magnífica pelo céu da terra “mãe”, ensinou-me que a cidade não se resume apenas a uma igreja colonial, cercada de casas seculares, de um mercado de várias portas, de um povo que caminha no meio da rua e senta com a família nas largas calçadas, para falarem sobre política e dos “velhos fantasmas”.
Ele me mostrou que Juca é primo de Ulisses e que ambos são imortais, enquanto o caminho da loucura estiver entre o amor e morte. Mostrou-me ainda que essa cidade fica roxa de dor quando amarga de paixão, mas fica ainda mais encarnada quando abrasa de felicidade. Contudo, aprendi que sempre fui mochino, pois nunca imaginei o Piauí sem essa cidade, imaginar o nosso estado sem ela é apagar boa parte da história amarelada do nosso povo, entregar as tradições aos cupins do esquecimento. Em Oeiras o pretérito não passa, vive conjugada por homens, mulheres, crianças e fantasmas.
Junior Vianna

Nenhum comentário: