Mosaico da Vila

E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias
Machado de Assiso leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de AssisOSAICO DA VILA
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de AssisICO DA VILA
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de Assisepare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de historias é justamente o contrario do historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias" Machado de Assis
Foto: Carlos Rubem


Sobre o Pergaminho de Clio: Passeio a Oeiras


Na segunda década do século XX, a justo noventa e seis anos, ali no Canela, o poeta Nogueira Tapety em um dos versos do poema “De Volta” onde ufanicamente evoca Oeiras, asseverou: “Aqui chego a julgar a vida uma delícia”. Tão quanto o notável poeta, muitos são os que têm essa impressão, externando essa sensação em poemas, música ou em livros. Assim fez o historiador Dagoberto de Carvalho Júnior, em 1982, quando publicou o roteiro sentimental oeirense intitulado de “Passeio a Oeiras”, desta feita, a cidade se fez livro e tornou-se referência para tantos outros escritos, pois no dizer do Bruxo do Cosme Velho: ”Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro”. Dessa maneira, seguir o roteiro sugerido pelo autor é mergulhar no tempo e sentir a força de nossa história e de nossa identidade.


Parafraseando o próprio Dagoberto Júnior, um Passeio a Oeiras não precisa de data e diria mais, nem hora marcada, mas sim, de disposição para caminhar por becos, ruas e praças que guardam no seu âmbito indícios de nossos antepassados, homens e mulheres que ao longo de mais de três séculos vêm tecendo uma história de resistência pautada na luta, na religiosidade e em muitas fantasias. Fincada nos “Sertões de Dentro”, a sertaneja cidade de Oeiras é um lugar sentimental, talvez um motivo preponderante que fez Dagoberto escrever essa obra literária possuidora de fortes doses de lirismo, mas sem perder seu foco historiográfico. Isto sim, que é genialidade, pois a cada parágrafo, a cada página virada, a certeza de que a literatura é o lado compassivo da história.


Para os desatentos pode até passar despercebido, mas é perceptível que o livro não possui sumário, uma estratégia bastante sugestiva do autor, uma vez que se pode iniciar o livro de qualquer página. Assim como na própria cidade, que de qualquer rua pode-se iniciar o roteiro pelas vias públicas e apreciar a arquitetura dos casarões que as molduram. Dagoberto, como um bom historiador contemporâneo, esmiúça a história da cidade pondo sempre em primeiro plano o fato histórico, assim as datas servem apenas como elemento norteador para que o leitor não se perca no tempo, pois cada narrativa possui cronologia própria, embora a sequência dos textos darem-se dos idos coloniais até ao século XX, período no qual foi escrita a obra.


Das muitas descrições e revelações do historiador, uma é, sem dúvida marcante, quando ele afirma que: “Nenhuma cidade é portuguesamente brasileira se não nasce em derredor de uma igreja”. Dessa maneira, sintetiza, com maestria, a origem da brejeira Oeiras, senhora de todas as freguesias piauienses, que nasceu em meio aos mugidos do gado da Casa da Torre e as orações dos jesuítas que “Nos Arredores da Cidade” também fizeram história.


Dividida em trinta partes, cada uma delas traz um título um tanto quanto poético, revelando peculiaridades da Oeiras Velha. Com primazia, Dagoberto, como se utilizasse luzes de ribalta, foca em primeiro plano a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória, templo setecentista, construído sob o patrocínio dos ditos homens bons. Assim, rememora suas imagens sacras, a talha dos seus altares e a sua própria edificação barroca, onde, por muitas vezes, ecoaram vibrantes te-déuns e dolentes réquiens nos dias ficaram registrados na lembrança daqueles que jazem no Santíssimo Sacramento, mas que, com erudição, foi avivado pelo historiador, pois no dizer de A.Tito Filho: “Dagoberto Júnior assume a função de guia espiritual”, levando os leitores, portanto, muito além das grossas paredes da igreja colonial, guia-os pelas ruas de sempre com nomes de ontem e de hoje, onde abriga fantasmas e servem de passagem para muitos transeuntes que na pressa do cotidiano desdenha a sua própria história.


Dagoberto sugere no seu livro um passeio cheio de histórias que também se faz nas ruas... Rua do Izidro, onde, a contragosto, está em ruínas a antiga Pensão dos Portelas; mais adiante limita-se com a Rua do Fogo, onde não mais reside uma legião de viúvas, pois, pela dinâmica do tempo, outros moradores existem ali, como o historiador Chico Rêgo; mais adiante a Rua das Portas Verdes e por aí vão muitas ruas e muitos nomes: Pataratas, das Flores, da Cadeia, do Hospital, do Sol, do Norte e quando uma fica ligada à outra, por circunstância natural do traçado da cidade, faz desse lugar um grande labirinto de saudade.


Por essas ruas, passa a monumental Procissão dos Passos, tão bem descrita no “Roteiro dos Passos” onde é explicitada a mais oeirense das celebrações sacras, quando os herdeiros da extinta Confraria do Bom Jesus carregam a charola com a imagem portuguesa do Cristo vergado pelo peso da cruz. Assim, na mais profunda oeirensidade, as ruas ficam cheias de fiéis. Por esse motivo, indagou certa vez o historiador Fonseca Neto: “Será que as ruas da secular Oeiras foram entortadas à força do movimento das procissões? Ou as ruas tortas dali foram feitas para lhes servir de passagem? São, sem dúvida, mistérios da velha cidade que só se pode desencantar fazendo um Passeio a Oeiras.


Por essas ruas, localizam-se muitos dos casarões, solares e sobrados descritos pelo escritor, com suas janelas de ventarolas, suas alcovas e beirais que, por muitos anos, transpareceram a riqueza de seus proprietários, todavia, atualmente feitas pálpebras sonolentas tombam em ruínas. Diante disso, Dagoberto Júnior recorreu à sensibilidade da sua conterrânea Zuleica Tapety que tratou em aquarelar os antigos prédios da cidade. Dessa forma, no livro Passeio a Oeiras, o leitor desfruta dessas duas veias artísticas, a pintura que nos hipnotiza e a escrita que nos encanta.


Assim, diante do livro Passeio a Oeiras, o que dizer? Nessa hora recorri a seu primeiro prefaciador Humberto Guimarães que diz: “Além da boa história, aqui se sobreia a poesia como verniz contra traças e um corretor anti-ranço”. Mais forte ainda, diz o escritor José Expedito Rêgo:” Nunca vi tanto afeto e ternura juntos, nem tanto amor derramado em um livro sobre a terra mãe”. Na verdade, muitos foram os que opinaram sobre essa obra após passear por Oeiras, um livro consolidado que já chegou a sua sexta edição.


Por fim, coube a Dagoberto de Carvalho Júnior, guiar-nos pelas ruas, igrejas e casas da velha urbe, mas por que ele? Porque Dagoberto tornou-se símbolo de Oeiras e referência para aqueles que desejam fazer um Passeio a Oeiras.


Junior Vianna


Analise apresentada durante enconto com os membros da Confraria Eça- Dagobertiana

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