Nos Ditames da Fé: A Sertaneja Festa do Divino Espírito Santo
O Divino Espírito Santo é pela tradição cristã a terceira pessoa da Santíssima Trindade, tido como advogado dos pobres e reparador dos aflitos. Sua celebração festiva dá-se junto à festa de Pentecostes momento que os católicos mais pios remaram liturgicamente o nascimento da Igreja Católica. Legada das gerações ascendentes, a celebração ao Divino Espírito Santo, chegou a Oeiras no sertão do Piauí desde os idos coloniais, onde através de promessas, os devotos passaram a realizavam a festividade. A festa na maioria das vezes sob a batuta de abastados fazendeiros introduziram junto à festividade a doação de um boi, assim, muitos fazendeiros sendo ou não patrocinadores da festa passaram ao longo dos anos a retirar uma cabeça de gado vacum de seu rebanho e doá-la ao Divino, tradição que perdura ate os dias de hoje.
A carne do “boi do Divino” como é chamada, é distribuída para a população mais carente da cidade forma de explicitar a caridade e a fé devotada ao Espírito Santo. As peculiaridades dessa celebração não param por ai, além da carne Festa, tem-se a escolha do imperador, denominação dada ao patrocinador em virtude da monarquia brasileira do século XIX, mas se levar em consideração a tradição oral portuguesa, o uso da coroa nessa celebração já era feito por Vossa Majestade Isabel de Aragão desde o século XIV, que ao cumprir sua promeça junto ao Paráclito colocava sobre a cabeça de seus súditos a sua coroa. Os oeirenses celebram a Coroação do Divino no Domingo da Ascensão do Senhor, em tempos anteriores era realizada não no domingo, mas na quinta-feira, onze dias antes do Domingo de Pentecostes, embora com a mudança do dia, permanecesse junto a essa celebração a escolha do festeiro do ano seguinte.
Imperador (festeiro)
O que também chama atenção na Festa do Divino em Oeiras, é a imagem, como noutros lugares iconograficamente é uma pomba, embora com as asas fechadas, a cor é outra peculiaridade não é branca, mas dourada, insígnia de luz e discernimento, todavia no século XX a imagem do século anterior passou por algumas “encarnações” e dentre essas, ganhou um dourado envelhecido que lhe deu a fisionomia escura, mas que foi removida no ano de 2004, quando foi restaurada pelo museólogo Helio Oliveira, período em que os festeiros eram da Família Rego. Assim, após a decapagem a imagem ganhou a sua cor original.
(a imagem antes e depois da restauração respectivamente)
Dentre as festas religiosas oeirenses, a Festa do Divino é a única que modifica anualmente o roteiro de sua procissão, em virtude de cada festa ser realizada por uma família diferente, tão quanto o roteiro os elementos decorativos, pois estes ficam a critério de cada festeiro, a única coisa que não muda é o conjunto sacro; a coroa, o cetro, a bandeira e a imagem que sempre em destaque são levadas pelos membros da família responsável pela festa daquele ano. A Festa na sua essência devocional possui pessoas que mesmo implícitas, tornaram-se importante na manutenção no culto ao Espírito Santo, como é o caso do zelador do Divino Welleston Martins que há muitos anos se encarrega de paramentar o altar onde fica exposta a imagem sacra. Desta forma, independente da casa onde fica hospedada a imagem, o bondoso zelador tornou na terra onde tudo vira tradição, mais um símbolo da festa.
acervo sacro:coroa, bandeira e cetro
A Festa do Divino no bom gosto Oeirense possui suas peculiaridades, diferenciando-a das demais festividades atribuídas a Espírito Santo pelo país. Manifestação litúrgica que os anos não foram capazes de apagar. Assim, a festa permanecerá enquanto houver o respeito pela tradição e a devoção não se desfalecer diante as imposições culturais capitalistas.
Junior Vianna
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