A
sexualidade oculta em Malhadinha
Uma das mais notáveis
produções literária de estirpe oeirense é sem duvida, Malhadinha, obra ficcional
do escritor José Expedito Rêgo. Ambientada no final do século XIX, exibe com presteza
dois universos simbólicos nos quais transitavam o povo sertanejo do Piauí,
digo, uma gente dividida entre o catolicismo hereditário, como também no
deleitoso cosmo de atos profanos, frutos dos desejos, que não ficavam limitados
ao breou das alcovas.
Malhadinha é instigante
do início ao fim, não só pelo seu desenho histórico do fim do século XIX, onde
perfilam importantes acontecimentos, mas também, é enérgica e viril, nas descrições
de eróticos encontros entre as personagens enamoradas nas paginas do livro. As
cenas de sexo aos olhos do autor são bem naturais, visto que, o mesmo não usa artifícios
ou ao menos rebusca a linguagem para imprimir no leitor a imagem das cenas
narradas. ”Deitaram no chão, ainda morno
da tarde de sol. Hélio levantou o vestido da mulher até a cintura. Nenhuma peça
por baixo. Admirou as coxas longas, cor de cobre, a vulva infantil, sem pelos,
a fenda mediana escura, entre as polpas rechonchudas (...) desceu as calças até
o joelho. A introdução foi fácil.” A descrição anterior do primeiro ato
sexual entre Hélio e Joana, fica explicito que Expedito Rêgo não poupava
detalhes, fazendo com que os olhos em leitura penetrem ainda mais na obra
literária.
A escrita do autor nos
evidência ainda os pudores sendo corroídos pelas traças do desejo, a exemplo dos
encontros de Raquel e Nelson, outras personagens do livro.” No segundo encontro. Nelson possuiu Raquel, debaixo do juazeiro. Ele
a despiu peça por peça, sob os protestos não convincentes da moça. Contemplou-a
nua, o corpo branco arrepiado de medo.(...) Ela se entregou sem resistência.”
Os encontros ora na beira do riacho, ora no quarto da moça, tornam testemunhos
de que a muitos são os enlaces velados pela cumplicidade do silêncio.
A leitura da obra nos
leva ainda perceber que ilimitadas eram as proibições impostas pela sociedade
da época, mas quem em dados momentos são refutadas pelas personagens, visto que
às mesmices do cotidiano, opunham-se aos latentes desejos carnais. Assim, a
satisfação sexual de cada personagem deixa escancarada que o sexo, na sua mais
intima realização, era se não, o mais animalesco dos atos humanos.
As verdades da
sociedade da época materializam-se em Dona Sinhá, marcada pelo moralismo ético,
sem dúvida fruto de sua religiosidade exacerbada, entre orações e leituras
sacras, tentava impor nas outras personagens regras e preceitos, para que junto
à religião pudessem gozar da vida eterna. Mesmo com esses entraves o autor,
ousadamente faz confrontar o humano com o espiritual. Isso se dar na paixão
proibida encabeçada por Nair e Padre Sergio, embora quase irmãos, o amor
desponta em meio a valores e barreiras, as insinuações verbais de moça é sem dúvida
o espírito do autor carregado de cientificidade, sua fala alicerçada numa
filosofia iluminista se opõem ao primo celibatário, que carregado de desejo
tentava suprimir tão sentimento.
Nair não é um nome
comum, José Expedito Rêgo, intitula assim a personagem porque ela também não é
comum, se o seu nome significada “a estrela brilhando do navio”, é sem dúvida
ela que guia os momentos finais do livro, a moça toma as rédeas e chega impor
suas verdades em certo momento ao amado. Impetuosa chega a beija o clérigo e
destemida impõem-se: ”pouco me importa se
que sejas padre. Para mim és o homem que eu amo. Sei que não serás meu, mas
quero ter o prazer de ouvir de teus lábios as doces palavras: Nair eu te amo!”.
O amor é confirmado apenas em palavras,
visto que os desejos mais ardentes foram ali pontuados.
Muitos são os encontros
e desencontros quem compõe Malhadinha levar-se-ia muito tempo pra esmiuçar cada
um desses casos, cabe aqui apenas exortar a escrita de José Expedito mais uma
vez, onde ele é sem duvida, varias personagens desse livro, ora implícito, ora
em ações, vive em pensamentos ou simplesmente vagueia entre as personagens do
livro apontando a direção de cada uma.
Junior Vianna
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